Arquivo mensal: março 2015

Minas Gerales Parte II

O Gamarra fica perto de Baependi, na natureza exuberante da Serra da Mantiqueira. A Serra, que abastece grande parte do Sudeste, também sente as mudanças climáticas e enfrenta a seca. Todos comentam como as cachoeiras estão fracas, a estrada boa demais para essa época de janeiro, onde num passado próximo quem ia pra lá muitas vezes tinha que esperar o mês acabar pra voltar pra cidade porque a estrada ficava impraticável, muita lama. Pra Cosmo foi bom, mas o resto da natureza sente a falta da chuva e a confusão que o ser humano está fazendo com os ciclos naturais… Se ali, num lugar de abundantes nascentes a chuva fez falta, imagina longe delas… O povo está começando a sentir. É importante saber que mais que ficar menos tempo no chuveiro, é urgente que comamos menos carne, já que para produzir 1 kg, se vão 15.000 litros de água. Além do desmatamento, concentração de terras, etc.  Disso não se fala por causa daquela velha história de que quem tem poder que dita as regras. Vimos um documentário chamado ‘’Cowspiracy’’, que mostra como nenhuma dessas grandes ONGS e instituições ambientais cita a questão da pecuária, que é a maior responsável pelas mudanças climáticas e falta de água. O rapaz do filme se encontra com os ‘’Relações Públicas’’ dessas empresas e todos eles se esquivam quando ele toca no assunto. Dizem que não estão autorizados a falar sobre isso, desconversam. E então ficamos sabendo que grande parte da renda dessas empresas vem de grandes produtores de carne, que pagam o preço do silêncio. E essas instituições ambientais se vestem de boazinhas e jogam junto o jogo da enganação e desinformação do povo. Ojo!!! Vamos nós na comunicação alternativa semeando hábitos mais saudáveis e harmônicos livre de opressões!

Nessa nossa caminhada que cruza com vários lugares e pessoas que se queixam da falta de água, dos câmbios climáticos e temem o apocalipse, pensamos em filmar um documentário sobre a seca. E aqui estamos, passeando e registrando os causos do caminho.

Chegamos no Gamarra dia 31 de dezembro, passamos a noite na fogueira com sonzinho orgânico e céu estrelado. No dia seguinte fomos conhecer uma das cachoeiras e depois fomos pra casa do Dorinha e seu encantado jardim com agrofloresta, uvas, morangos, amendoim, flores, abelhas mil e seu deliciosíssimo mel de candeia, o elixir da doçura e amor… A vontade era mergulhar naquele potão dourado de perfeita consistência meio sólida… Ai ai…

Ficamos uns dias na casa do Dorinha, depois conhecemos o Celso Luccas, cineasta que convidou pra ficar na sua casa, no alto da serra, perto da cachoeira do Juju que nos disseram que é linda, mas que não visitamos porque a Cosmo não aguentou os subidões… (Ela fava meio fraca desde que compramos, mas agora aqui em BH fomos no Roberto mecânico que enfim descobriu a ferida que ela tinha: umas gambiarras mal feitas no carburador que deixava ela fraca e gastando muito combustível. Agora ela está curada e fortona, que beleza!!!).

Como não conseguimos chegar na casa do Celso, procuramos outro lugar pra ficar, o quintal da casa do Zé Neves, da Creuza e da Samya, família linda nativa dali. Que planta, faz balaio, queijo, tem moinho de água pra fazer fubá, moinho de cana. Ficamos ali parte daquela família mais de uma semana. Estávamos também perto da casa do Beto Rasta e da Marina, além dos amigos lindos que passaram por lá e partilhamos bons momentos e alimentos. Lá tomamos conhecimento também de livros de ginecologia natural que nos ensinou muito. (Tiramos fotos para fazer um pdf, quem quiser fale que mandamos!)

Ficamos esses dias dormindo na Cosmo, com o toldo armado, fogão de pedras e lenha, um quintalzão com araucárias ao fundo, cachoeiras maravilhosas, um oásis de jabuticabeiras centenárias, e vacas que rondavam a Cosmo a noite fazendo a segurança e nos dando uns sustinhos de vez em quando e uns cocôs enormes pra gente desviar!

Um dia estávamos no Zé Neves e soaram umas buzinas de carro. Tinha passado um tempo, ninguém foi ver e eu tinha ficado com aquilo na cabeça. Então fui ver quem era e vejo o carro laranjão e minha mãe Jane, irmã Lígia e tia Janet saindo dele. Que loucura!! Não esperava mesmo por isso! Só podia ser coisa da minha mãe mesmo! Tinha escrito um e-mail pra ela falando que tava lá no Zé Neves, no Gamarra, e só com essa informação ela conseguiu chegar  lá naquele cantinho e fazer uma surpresa! Foi muito legal!! Passaram o fim de semana lá, fomos na festa de folia de reis do povoado, na cachoeira… Deu pra matar as saudades e abastecer de carinho de família e laricas por mais um tempinho. =)

Fizemos uma sessão do ‘’Vientos’’ (filme que fiz e já comentei aqui no blog) na casa do Zé Neves. O pessoal da casa do Beto Rasta desceu também pra ver e foi linda a sessão. A família do Zé adorou e rendeu uma boa conversa depois. Que gratidão!!!

Fizemos outra sessão no Bar do João, no certinho do povoado. Pouco antes passamos de kombi com o megafone divulgando a sessão e depois andando de casa em casa com umas crianças ajudando. Assim chegou um pessoal e passamos 3 curtas infantis e depois o filme Zé Zero, do Ozualdo Candeias, que fala da ilusão do êxodo rural e do dinheiro. Foi massa que tem muito a ver com a realidade daquele lugar. Rendeu também boa conversa acerca do conteúdo e da forma do filme. Mais gratidão!

A Fernanda foi pro Rio resolver uns problemas e Luiza e eu visitamos o Vrinda Bhumi, centro Hare Krshna ali no Gamarra. Fomos numa tarde pensando em ficar umas horinhas e partir do Gamarra no dia seguinte, mas acabamos ficando por lá 3 dias. O lugar era uma delícia e os monges muito acolhedores. Nos sentimos muito bem por ali. O lugar é uma ecovila, com bioconstruções muito lindas e uma energia muito elevada. Gratidão é o sentimento mais uma vez…. Hare Krshna…

http://vrindabhumi.com/pt/

Quando saímos do Gamarra fomos visitar o Celso e a Brasília em Baependi para pegarmos com ele cópias de seus filmes e conversarmos um pouco mais. Que casal bacana!! Muito especiais! E mais uma vez experimentamos a magia dos fluxos que nos aproxima das frequências que vibram em sintonia conosco. São cineastas, o Celso saiu do Brasil na época da ditadura e foi com o pessoal do Teatro Oficina pra Portugal. Filmou lá ‘’O Parto’’ com os arquivos da tv portuguesa sobre a ditadura e a Revolução dos Cravos. De lá foi com o Zé Celso pra Moçambique e filmaram ‘’25’’, o primeiro filme moçambicano, que documenta a libertação do país. Depois, Celso fez o projeto ‘’Cinema Ambulante’’ nos anos 70, onde viajava de carro exibindo seus filmes pelo Brasil. Nos anos 90 deu continuidade a esse projeto exibindo junto com a Brasília na Amazônia o filme que haviam feito lá uns anos antes, o ‘’Mamazônia’’, filmado no Acre em película. Agora estão editando essas imagens que filmaram das exibições do Cinema Ambulante na Amazônia, em breve poderemos assistir ao material. Estão editando também um filme sobre o Bem Viver, que gravaram na Bolívia e no Butão. Que prazer conhecê-los. Foi uma troca muito linda e potente. Pegamos a cópia dos filmes para exibirmos com o Cinemacaxera. Saímos de lá muito inspiradas e abençoadas por aquela energia de quem já abriu esse caminho que trilhamos agora. Só nos deu mais certeza e confiança da beleza do projeto que estamos realizando. A vontade é criar e semear muito mais! Gratidão pela conexão cósmica!!!!

Entregues ao fluxos

Deslizamos ao encontro.

Entre todas as possibilidades,

Todos os lugares, todas as pessoas

Deslizamos…

Atraídos e atraindo

Este (e todos os outros)

Aqui e agora.

Dali com os olhinhos brilhando partimos pra Carrancas, onde nos disseram que tinham muitas cachoeiras e era caminho pro nosso próximo destino, Tiradentes, onde no final do mês teria festival de cinema. Logo que chegamos em Carrancas conhecemos o Guto, um desses anjos que cruzamos pelos caminhos e que nos acompanhou e ajudou muito por ali. Paramos a Cosmo na praça e ali foi nossa casa por aqueles dias. A cidade é muito simpática e as cachoeiras muito lindas!!! Fizemos duas sessões de cine no coreto da praça: um dia ‘’O Castelo Animado’’ do Myiazaki e outro ‘’As Aventuras Amorosas de um Padeiro’’ no Waldir Onofre. Massa! Em Carrancas começamos a empreitada de falar da sessão de cinema e pedir apoio de alimentação em restaurantes da cidade, e deu super certo, lá e nas próximas cidades! =D Que beleza!!!

A Fernanda nos encontrou em Carrancas, ficamos mais uns dias e fomos pra Tiradentes. Ficamos lá o tempo do festival, uns 10 dias. Foi muito bom, vimos vários filmes, revimos amigos, vendemos cadernos e ficamos na casa deliciosa dos pais da Julia. Um conforto gostosinho pra ficar de boa. Ô beleza!

Depois de Tiradentes queríamos achar um lugar pra ficar uma semaninha até começar o carnaval em BH, onde iríamos depois. O pai da Julia comentou sobre um lugar chamado Lavras Novas e decidimos ir pra lá. Fica pertinho de Ouro Preto. O lugar é maravilhoso, nos encantamos. A população é quase toda negra, de um passado de mineração. Ficam do lado de fora de suas casas e trocam aqueles bons papos mineiros. A cidade é muito lindinha, encantada. Conhecemos o grande Godelo, irmão que nos acompanhou e que compartilhamos esses dias. Jogamos muita sinuca, tinha uma mesa na sala do Thiago, amigo que ficamos hospedadas em seu quintal. Treinamos capoeira com o mestre Jorge e o grupo de lá, foi muito bom! Conhecemos o Advânio Lessa, artista de esculturas e pinturas deslumbrantes, e gente forte e brilhante dessas que faz arrepiar só de estar perto, como disse um amigo aqui em BH. Foram muito gostosos os dias em Lavras Novas, a cidade tem uma energia muito boa. Que bom que passamos por ali! Fizemos 2 sessões de filme atrás da igreja, na Casa Paroquial. Um dia passamos ‘’Kiriku’’, um filme muito lindinho sobre uma tribo africana e o Kiriku, que é pequeno mas muito valente. Vejam, é demais!! E exibimos também ‘’Quilombo’’ do Cacá Diegues. Fala sobre o Ganga Zumba e o Zumbi com cenas psicodélicas e uma superprodução brasileira de elenco negro. Vale muito a pena ser visto também!

De Lavras Novas viemos pra BH, onde estamos agora. Chegamos na quarta dia 11/03 já prum bloco e até a quarta seguinte ficamos nessa maratona doida de carnaval aaaaahhhh é muita energia!! Foi delícia demais, os blocos e as gentes daqui são massa. Vários blocos tinham Kombi levando o som, a Cosmo foi representada! =)

Ficamos essa primeira semana e mais uns dias na casa da Barbarita, carnalita chingona weeyy que nos recebeu na sua casinha e depois viemos pra onde estamos agora: a ocupação Rastafari Roots Ativa, no barracão mais alto do aglomerado da Serra, favela grandona aqui de BH. A galera é massa demaaiiss, ficam aqui com as portas abertas por onde chegam crianças e adultos do morro e convivem e trocam num ambiente de muito amor. Fazem uns rangos bonzassos e vendem nas feiras e eventos de BH para manterem esse espaço aqui. É colado no mato, tem horta, banheiro seco e a vista mais incrível de BH, dá pra ver a cidade todinha.

Tamos filmando o projeto com eles, o vídeo vai entrar pra série que estamos realizando sobre comunidades alternativas, além de servir pra eles divulgarem e fazerem um esquema de financiamento colaborativo pela internet. Em breve divulgamos por aqui!!

Álbum do Facebook com as fotos! https://www.facebook.com/media/set/?set=a.1592211434354374.1073741834.1478088152433370&type=3